Porque eu discordo da excessiva importância atualmente dada à originalidade
melão com presunto: símbolo alimentício da compulsão pela originalidade
Existe, hoje, uma pressão para ser original. Essa ânsia modernista, fruto de um vanguardismo equivocado, inquieta o público e leva o realizador ao desespero. O que é, afinal de contas, original? Falemos de cinema.
No frisson moderno, se esquece que uma das características da boa arte é justamente a amplitude de seu efeito, e que, para tanto, ela precisa se comunicar com um ser humano – ser este que se move por sentimentos antigos, primitivos, recalcados. Essa durabilidade de forma é algo inegável, mas que obviamente não esgota as discussões a respeito da evolução da narrativa. É, no entanto, um ponto muito claro, forte, e evidente para que seja simplesmente rejeitado por um impulso juvenil.
Paira no ar a idéia de que já vimos de tudo, que sabemos de tudo. Essa idéia, reinante entre certos círculos artístico, alimenta o culto do original, do diferente, do exótico. Filmes que lidam com simulacro do novo tendem a ser super-valorizados, ainda que apresentem pouca variação em relação à estrutura convencional. É cobrado do artista o constante efeito de surpresa e estupefação. Como se coubesse a ele o ônus de ser um humano melhor que o humano, uma espécie de super-homem visionário. Até acredito que hajam artistas assim, mas acho exagerado esperar isso de toda obra executada. Existem, além do pioneirismo, muitas gradações de efeitos que possibilitam obras de grande interesse e relevância poética. E que, sintomaticamente, têm com a nossa vida cotidiana uma relação orgânica e necessária.
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