quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Porque eu discordo da excessiva importância atualmente dada à originalidade


melão com presunto: símbolo alimentício da compulsão pela originalidade

Existe, hoje, uma pressão para ser original. Essa ânsia modernista, fruto de um vanguardismo equivocado, inquieta o público e leva o realizador ao desespero. O que é, afinal de contas, original? Falemos de cinema.

Tratada por muitos como sintoma de originalidade, a narrativa não-linear (sic) é uma idéia absurda, pois de qualquer forma uma imagem está sempre atrás da outra, em seqüência. O que se chama de não-linear são histórias em que os acontecimentos são apresentados, na forma de filme, em ordem não cronológica (o adiante se apresenta agora, o agora se apresenta adiante, e o meio se esparge entre pedaços da narrativa). Quando colocadas em contexto convencional, no entanto, as histórias tendem a apresentar, em sua construção dramática, o mesmo jogo narrativo da fábula convencional.


No frisson moderno, se esquece que uma das características da boa arte é justamente a amplitude de seu efeito, e que, para tanto, ela precisa se comunicar com um ser humano – ser este que se move por sentimentos antigos, primitivos, recalcados. Essa durabilidade de forma é algo inegável, mas que obviamente não esgota as discussões a respeito da evolução da narrativa. É, no entanto, um ponto muito claro, forte, e evidente para que seja simplesmente rejeitado por um impulso juvenil.


Paira no ar a idéia de que já vimos de tudo, que sabemos de tudo. Essa idéia, reinante entre certos círculos artístico, alimenta o culto do original, do diferente, do exótico. Filmes que lidam com simulacro do novo tendem a ser super-valorizados, ainda que apresentem pouca variação em relação à estrutura convencional. É cobrado do artista o constante efeito de surpresa e estupefação. Como se coubesse a ele o ônus de ser um humano melhor que o humano, uma espécie de super-homem visionário. Até acredito que hajam artistas assim, mas acho exagerado esperar isso de toda obra executada. Existem, além do pioneirismo, muitas gradações de efeitos que possibilitam obras de grande interesse e relevância poética. E que, sintomaticamente, têm com a nossa vida cotidiana uma relação orgânica e necessária.

Nenhum comentário: