segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Alguns Comentários sobre o Oscar



Javier Bardem, melhor-ator coadjuvante por Onde Os Fracos Não Têm Vez

De modo algum me incomoda que os Irmãos Coen (Onde os Fracos Não Têm Vez) tenham ganhado os prêmios de direção e melhor filme. Da década de 80 para cá, eles construíram umas das carreiras mais competentes e regulares da indústria americana. Mas, enquanto os Coen trabalham num território tangente ao cinema de gênero, em Sangue Negro Paul Thomas Anderson desbrava acres de terra inexplorada. Uma diferença sensível.


Dentre os indicados ao prêmio principal, disputavam realmente Sangue Negro e Onde Os Fracos..., claramente superiores. No segundo time eu colocaria Conduta de Risco, que, além do roteiro impecável, com ótimos diálogos, tem direção segura (apostando nas elipses, na secura e na fotografia sombria) e atuação magistral de George Clooney. Juno e Atonement eram as duas zebras. O primeiro é uma tremenda sessão da tarde, com história de uma sinceridade incomum, falas marcantes e a atuação ultra carismática de Ellen Page. Mas não passa disso. Já Atonement, ainda que engane com a boa e velha elegância de época, não tem grandes trunfos de história e direção, além do final problemático. Encanta, sim, por uma certa aposta emocional que não deixa de ter seu valor, mas está muito longe de encontrar uma coesão narrativa que o equipare aos cabeças-de-chave.



Daniel Day Lewis ganhou melhor ator, nada mais justo. A sua atuação em Sangue Negro, como o inescrupuloso petroleiro Daniel Plainview, é poderosa, impactante, atemporal. Deverá ficar marcado não só por causa prêmio, mas por ter encarnado algumas das melhores cenas já vistas na história do cinema. O prêmio de melhor ator coadjuvante ficou com Javier Bardem (Onde os Fracos...), que, em sua contenção psicótica, criou um personagem monstruoso e cativante.


Pela quantidade de bons concorrentes, este foi um ano atípico para o Oscar. No lugar de Day Lewis, em outros anos ganharia fácil Johnny Depp, ou mesmo George Clooney. Um filme como Conduta de Risco também não passaria desapercebido em premiações anteriores. Outra característica foi a indicação de filmes baratos, em que a elaboração fílmica se sobrepõe ao orçamento e aos efeitos de computação gráfica. Uma indicação de que a fórmula do blockbuster dá sinais de cansaço. O público está carente de boas histórias, e estes resultados deverão ter um efeito positivo no cinema americano a partir de agora. Em 2008, é provável que haja uma valorização de roteiristas, diretores e atores, em detrimento da doutrina megalomaníaca que gerou uma quantidade alucinante de subprodutos de Senhor dos Anéis e suas variações. É esperar pra ver.


nota: os prêmios que não comentei foram os dos filmes a que não assisti.

5 comentários:

Iris de Oliveira disse...

postei quase a mesma coisa sobre juno ( nesse instante)
beijo

Anônimo disse...

Nã posso opinar muito pois não vi os filmes, mas como confio na sua opinião (sim, temos algumas divergências), e conheço o trabalho dos Coen, acredito ter visto uma das melhores premiações do Oscar.

PS: Torcia por PTA, por uma questão de gosto, mas entre mortos e feridos, salvaram-se os fortes.

André Setaro disse...

Considero 'Sangue negro' um grande filme do cinema das últimas décadas. É o melhor do Oscar, sem dúvida, embora goste muito dos filme dos 'fratelli' Coen

JOHHNY BGOOD disse...

David..eu te dissera que sangue negro era uma obra prima.Realmente....feliz que você concordou!

Agora gostei de "Atonement" - acho que o filme foi mal vendido/divulgado aqui no Brasil, mas achei uma tocante história de amor, muito boa mesmo.

Eu concordaria em dizer ser Sangue Negro o melhor filme do Oscar este ano, mas pessoalmente "O Escafandro e a Borboleta" me emocionara mas.

De fato...o melhor filme do ano.
Mas isso tudo é relativo não é mesmo?
Assista.É sensacional e extremamente original quanto ao uso de linguagem e uso de câmera.
Comprei até o livro numa biblioteca virtual(aqui em SSA não tem.)

Abs, tô de volta!

Davi Lopes Ramos disse...

Estou com o Escafandro aqui, agora que você falou tenho mais um motivo para assisti-lo.

Não arredo o pé quanto a Atonement: acho o filme forçado mesmo, com alguns probleminhas flagrantes.