Uma vez sonhei que era um aviãozinho de papel. E voava.
Me interessam os eventos capazes de romper o tecido das relações sociais. Às vezes fantasio rasgos na realidade que, por alguns segundos, me produzem grande satisfação. Andando no ônibus, vejo um exército desconhecido invadindo a orla de Salvador. Marcham sem pressa, soberanos. Abrem caminho, mas não matam ninguém. Ainda. Se dirigem talvez às sedes do governo. Aos batalhões do exército. Aos shoppings Salvador e Iguatemi.
Era pior, quando criança. Tive inúmeros sonhos com discos voadores. Eu os temia, mas ao mesmo tempo desejava aquela sensação intrigante de medo e espanto. Já os vi pousar em meu colégio, num dia de aula. Outra vez, avistei um disco maravilhosamente belo de minha janela do quarto e chamei a família toda para ver. Era como se o mundo se partisse em dois, como se dali em diante tudo fosse diferente. Talvez eu quisesse ser o cara dos discos voadores, o herói do filme, o nerd que decifra o código, descobre a invasão, acha o grande palpite que vai salvar a humanidade.
Hoje tudo era água. Eu morava no décimo segundo andar e tinha água em minha janela. E eu saía de barco pela cidade.
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